Depois, contei a ele que tinha uma surpresa. Seus olhos brilharam.
"Chocolate quente?", perguntou baixinho, como se não tivesse certeza se merecia.
Eu sorri. "Você mereceu."
Caminhamos até um café novo — elegante, moderno, cheio de pessoas teclando em laptops. Não nos encaixamos muito bem, mas imaginei que, se ficássemos sentados em silêncio, ninguém se importaria.
Ben escolheu uma mesa perto da janela. Seus cachos estavam cheios de eletricidade estática, e ele riu quando eles grudaram em seu rosto. A garçonete trouxe uma caneca fumegante cheia de chantilly. Ele tomou um gole, deixando um bigode branco, e riu quando o limpei.
Então veio o som — um estalo seco de desaprovação.
"Você não consegue controlá-lo?" Um homem resmungou, sem sequer levantar os olhos.
Seu acompanhante disse baixinho: "Algumas pessoas simplesmente não pertencem a lugares como este."
Senti o rosto queimar. Os ombros de Ben caíram.
"Fizemos alguma coisa errada?", ele sussurrou.
Forcei um sorriso. "Não, meu bem. Algumas pessoas simplesmente se esquecem de como ser gentis."
Pensei que tudo terminaria ali. Mas logo a garçonete voltou.
"Senhora", ela começou gentilmente, "talvez a senhora se sinta mais confortável lá fora. Há um banco do outro lado da rua."
Seu tom era educado, quase pedindo desculpas — mas a mensagem era inconfundível. Não éramos bem-vindos.
Olhei para Ben, cujo lábio tremia. "Vamos, querido", murmurei, estendendo a mão para ele.
Mas ele não se mexeu. "Vovó", ele sussurrou, "não podemos ir."
"Por que não, querido?"
Ele não respondeu. Apenas olhou para além de mim. Virei-me e o vi olhando para a garçonete. Não para o uniforme dela, nem para o cabelo, mas para o rosto.
"Ela tem a mesma mancha", disse ele suavemente, apontando para a bochecha.
Franzei a testa. "Que mancha?"
Ele tocou logo abaixo do olho. "A pequena mancha marrom. Igual à minha."
Olhei mais de perto. E lá estava: uma pequena marca de nascença na maçã do rosto esquerda, idêntica em forma e cor à de Ben. Meu peito apertou. Os olhos dela, a curva da boca, até o jeito como ela franzia a testa — ecos dele.
Tentei ignorar, mas meu coração não parava de acelerar.
Quando ela voltou com a conta, consegui esboçar um sorriso educado. "Desculpe se incomodamos alguém. Meu neto acabou de notar sua marca de nascença — chamou a atenção dele."
Os olhos dela se voltaram para Ben. Por um instante, sua expressão vacilou — surpresa, talvez reconhecimento. Então ela se virou, em silêncio.
Lá fora, o ar estava cortante e frio. Eu estava ajudando Ben com o casaco quando ouvi alguém atrás de mim.
"Senhora", ela chamou suavemente.
Era ela — a garçonete. Suas mãos tremiam levemente enquanto se aproximava. "Posso falar com você? Só um minutinho?"
Algo em sua voz me deu um nó no estômago. Pedi a Ben que ficasse por perto e a segui alguns passos.
"Sinto muito", disse ela. "Pelo que aconteceu lá dentro. Não foi justo."
Assenti, cautelosa. "Tudo bem."
"Não, não está", disse ela rapidamente. "Mas não foi por isso que vim aqui." Sua respiração falhou. "Preciso lhe perguntar uma coisa. Ele é... seu neto biológico?"
A pergunta me pegou de surpresa. Hesitei e então disse baixinho: "Não. Minha filha o adotou há cinco anos."