Naquele instante, o sorriso frio desfez-se no seu rosto. Maria gritou, num som que tinha estado silencioso por anos, e deixou cair o anel no chão. Correu para o cais de madeira que se estendia sobre a água.
A multidão luxuosa seguiu-a, confusa. Maria parou na beira do cais e encarou a multidão elegante (como se vê na imagem) que testemunhava as mentiras da sua vida. Em seguida, rasgou o tecido do seu luxuoso vestido de noiva branco com as próprias mãos para revelar um colar de conchas enferrujado que usava por baixo, o colar que João lhe havia dado antes de partir.
Um silêncio total pairou sobre o local. De repente, o barulho de um pequeno motor de barco atravessou o ar pela janela virada para o mar. Era um barco velho e simples, do tipo de pesca tradicional de Setúbal.
A Volta do Barco Simples
O barco parou perto do cais, e nele estava um homem de traços fortes, vestindo roupas simples de trabalho. Os seus olhos carregavam a dureza e a tristeza do mar... Era João.
Ele tinha sido resgatado por um barco de pesca após uma tempestade, mas nunca mais voltou para a sua aldeia, evitando o casamento da sua amada. Quando soube a verdade por um amigo comum, chegou no último momento.
João gritou do seu barco com a voz rouca: "Maria! Pensas que a Saudade me poderia matar facilmente? Sobrevivi a afogamento, mas não consegui sobreviver ao teu amor!"
Maria correu para a beira do cais, a chorar, deixando os seus sapatos luxuosos para trás. Vasco gritou furioso: "Para! Tu és minha mulher agora!"
Maria olhou para ele pela última vez, um olhar cheio de pena, e depois saltou! Mas não saltou para o barco. Ela caiu na água fria.
João saltou imediatamente do barco para ela e puxou-a para a superfície. Ao erguê-la para o barco, ele não via a noiva que abandonara os ricos, mas sim Maria, que escolhera a liberdade.
O Final
João e Maria partiram no seu barco, rumando ao horizonte, deixando para trás o palácio, a multidão e o dinheiro.
Vasco ficou sozinho no cais de madeira. Não estava mais zangado, mas sim vazio. Perdeu o único amor da sua vida duas vezes: uma vez quando Maria lhe enviou a carta de despedida, e novamente quando ela desvendou a sua mentira publicamente. Ele sabia que o preço da vingança era demasiado alto: perder o seu coração para sempre.
Quanto a Maria e João, voltaram para a aldeia piscatória, onde viveram juntos, indiferentes ao que o mundo dizia. A sua felicidade era simples, como as ondas calmas do oceano, e eterna como a Saudade na alma de Portugal.